segunda-feira, 23 de maio de 2016

A "diferença" na literatura infantil

A postagem de hoje é motivada pelas discussões realizadas na disciplina de literatura sobre a a temática da diferença. Para embasar essa discussão a professora sugeriu a leitura do texto: 

“Nas tramas da literatura infantil: olhares sobre personagens “diferentes” escrito por Rosa Maria Hessel Silveira.

O texto me fez refletir sobre vários aspectos que gostaria de compartilhar com vocês. Destaco, então, alguns elementos que me chamaram a atenção:

A autora com base em outros estudos aponta que mesmo que os livros não se proponham explicitamente a “ensinar” eles apresentam uma ideologia implícita com relação a organização social, que também ensina. Com base nos livros analisados pela autora ela aponta que é evidente que os autores tinham uma motivação para escrever obras de uma forma pedagógica que transmitisse uma mensagem de não ao preconceito e mais adequada com a realidade vivenciada por seus leitores.
A autora após apresentar de forma resumida as 10 obras literárias analisadas, destaca alguns elementos que podem ser relacionados nas obras analisadas. Segundo a autora é possível identificar nos livros analisados o que ela denomina de: “gênese das diferenças” que segundo a autora seria uma explicação voltada para os leitores de que aquele personagem é diferente, pois ele nasceu assim. Em alguns livros junto com a explicação de que o personagem nasceu assim é possível encontrar uma explicação cientifica da deficiência do personagem.
Um segundo elemento analisado nas obras é relacionado ao “status dos personagens diferentes”: em alguns livros a autora aponta que a deficiência é narrada pelo discurso da falta, da carência gerando no leitor um sentimento de consideração mas também de pena pela forma que o personagem é narrado. Outras obras em contra partida narram a diferença através da potência, do que o personagem pode fazer ao invés de marcar a falta. Para exemplificar essa questão a autora destaca os livros: “A gaivota que não podia ver” e “o menino que via com as mão”.
O terceiro e último elemento que a autora analisa nas obras refere-se ao desfecho das narrativas, assim ela aponta que alguns livros por não apresentarem um enredo para ser resolvido, não possuem um desfecho. Nas obras que possuem um desfecho ela destaca que as soluções utilizadas para finalizar as narrativas podem ser divididas em: 1- uma solução pelo sentimento: amizade, amor, carinho. 2- a inserção do personagem diferente em grupos também compostos por outros personagens diferentes. 3- a aceitação da diferença pelo personagem e pela família.

Como professora compreendo que a leitura desse texto foi bastante significativa. Pois a autora mostra a importância de ao escolhermos uma obra literária para trabalhar com nossos alunos  observarmos como a diferença é abordada pelo autor da obra escolhida e como ela é narrada ao longo da história. Pois muitas vezes ao escolhermos uma obra para trabalhar a questão da diferença poderemos estar reforçando estereótipos e preconceitos ao invés de combate-los. 

Ao ler esse texto me lembrei de uma história infantil escrita por Rubem Alves. A história tem como título: "Como nasceu a alegria" e conta a história de uma flor que não era aceita por ser diferente... Encerro então essa postagem com as palavras de Rubem Alves:

"Existe uma estória que foi construída em torno da dor da diferença: a criança que se sente não bem igual às outras, por alguma marca no seu corpo, na maneira de ser… Esta, eu bem sei, é estória para ser contada também para os pais. Eles também sentem a dor dentro dos olhos. Alguns dos diálogos foram tirados da vida real. Ela lida com algo que dói muito: não é a diferença, em si mesma, mas o ar de espanto que a criança percebe nos olhos dos outros […] O medo dos olhos dos outros é sentimento universal. Todos gostaríamos de olhos mansos… A diferença não é resolvida de forma triunfante, como na estória do Patinho Feio. O que muda não é a diferença. São os olhos…"






2 comentários:

  1. Olá Renata! Parabéns! Li tuas postagens sobre nossa interdisciplina de literatura e é evidente teu empenho em estabelecer relações entre a tua prática e os aspectos teóricos promovidos por esta interdisciplina. Não conhecia este livro de Rubem Alves e vou procurar para utilizar com meus alunos! Continua publicando tuas reflexões e aprendizagens neste espaço. Grande abraço, Josele.

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    1. Que legal essa interação com vocês! Hoje vim meio "desanimada" pois sabia que precisava publicar no blog. Depois desse incentivo me sinto bem mais animada para fazer essa nova publicação!

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