terça-feira, 28 de junho de 2016

E seu nome é Jonas...



Neste postagem busco realizar uma reflexão a partir do filme: "E seu nome é Jonas", uma indicação da professora de Libras.
Aqui além de contar à história que ocorre no filme busco realizar uma discussão sobre alguns aspectos que o filme traz a tona como: Identidade surda, Língua de sinais, processos de in/exclusão e Escola de surdos. 
 O filme E seu nome é Jonas, narra a história de um menino surdo que passa por diversas dificuldades em sua trajetória de vida, encontrando barreiras principalmente, no convívio social. O filme começa em um hospital para crianças com deficiência mental. As crianças são acordadas pelas enfermeiras, mas um menino não acorda com o barulho ele tem que ser sacudido por uma das enfermeiras, logo descobrimos que este menino é Jonas. Que está internado nesta instituição porque ocorreu um erro em seu diagnóstico. Jonas foi internado nesta instituição por três anos como se fosse um deficiente mental, mas na verdade ele era surdo.
 Ao descobrir o erro médico, seus pais o retiram do ambiente hospitalar e o levam para casa. O sentimento de culpa, então, passa a permear a relação dos pais.
A mãe de Jonas busca ajuda de todas as maneiras possíveis, visando beneficiar sua família. Leva Jonas a uma clinica para verificar seu nível de audição, Jonas então passa a usar um aparelho auditivo extremamente grande marcando a questão da diferença-deficiência. Leva também a uma instituição que não admite o uso de gestos, por considerar que as crianças surdas que usam gestos seriam “preguiçosas”. Jonas então começa a passar por diversas intervenções com a finalidade de “oralizalo”, para que no futuro ele possa se comunicar com “todas as pessoas”, e não só com “surdos”. A mãe passa por momentos bastante difíceis, ela não consegue se comunicar com Jonas e se sente culpada por esta causa. Giordani nos ajuda a pensar sobre a questão da inclusão de sujeitos surdos:
A educação de surdos marca um debate fundamental dentro da implementação das políticas de educação inclusiva. Em destaque, o próprio significado do termo: quem disse que estar incluído é vivenciar a escola de ouvintes? Há outros significados da inclusão que precisam ser discutidos como condição social de viver os bens culturais que oferece a cidade. (GIORDANI, 2010, p. 78)
 O pai de Jonas tenta inserir e aceitar que o filho participe de sua rotina, mas encontra muitas dificuldades para que isso ocorra. Uma cena que me despertou bastante atenção foi quando o pai de Jonas leva ele e seu irmão para jogar beisebol, e os seus amigos não querem que Jonas participe desta atividade por ele ser “diferente”. Então o pai fica bravo e vai embora. Ocorrem diversas situações onde Jonas acaba sendo excluído por sua limitação na comunicação que levam o pai de Jonas a não agüentar a pressão social de ter um filho com deficiência e abandonar seu lar, e sua família. Tornando a situação cada vez mais difícil para mãe de Jonas.
Ao longo do filme, o ensino de uma língua oral é visto pela família como a única forma de fazer com que Jonas seja aceito e incluído pela sociedade. Nesse processo se evidencia o conflito entre oralizar a criança ou utilizar a Língua de Sinais com ela. LOPES e VEIGA- NETO, 2010, p. 120 refletem um pouco sobre a trajetória dos surdos:
Na relação com o ouvinte, o surdo foi ensinado e olhar-se e a narra-se como um deficiente auditivo. A marca da deficiência determinou, durante a história dos surdos e da surdez a condição de submissão ao normal ouvinte. Dessa história de submissão, criaram-se práticas corretivas derivadas de saberes que informam e classificam os sujeitos dentro de fases de desenvolvimento lingüístico, cronológico e de perda auditiva.
Após diversas tentativas frustradas de oralizar seu filho, e ao perceber como todo aquele processo estava sendo doloroso, a mãe de Jonas encontra com um casal de pais surdos, que possuem um filho que participa da terapia da fala junto com seu filho. Então ela busca se comunicar com eles para conhecer mais sobre os surdos e sobre a língua de sinais.
Acredito que esse é um dos momentos mais importantes do filme pois é a partir desta parte que a mãe consegue aceitar seu filho como surdo, e então opta por utilizar a língua de sinais como uma forma de comunicação com o seu filho, mesmo indo contra várias pessoas que a olham com suspeita e desprezo. CALDAS e SCHALLENBERGER nos alertam sobre a importância de se compreender a diferença cultural do surdo:
São muito importantes as práticas em sala de aula, tanto quanto as teorias estudadas e apresentadas pelos professores e alunos. Trocas culturais são fundamentais para a aproximação entre diferenças que buscam conviver em um mesmo espaço. Compreender a diferença cultural do outro permite desentranhar esse outro, assim como permite aprofundar os conhecimentos acerca da própria cultura. (CALDAS; SCHALLENBERGER, 2010, p. 128.)
A partir deste primeiro contato da mãe de Jonas com os surdos, Jonas começa a descobrir a língua de sinais através de um professor surdo, que desempenha um papel fundamental, para auxiliar Jonas na construção da sua linguagem e da sua comunicação. É uma das cenas mais lindas do filme, quando Jonas consegue falar sinais como: cachorro-quente, menino, menina, mãe. Jonas descobre o mundo a partir da língua de sinais.
 Em uma das últimas cenas do filme, podemos observar Jonas vibrando com o aprendizado da língua de sinais e através dele construindo seu vocabulário e sua linguagem. Ele utiliza a língua de sinais para nomear tudo que o cerca: árvores, folhas, objetos, pessoas, etc. Com isso, ele consegue entender o significado de palavras e conceitos que, até então, não faziam sentindo para sua vida. Através deste processo ele consegue se expressar e dar sentido às experiências vividas e que marcaram sua vida de forma traumática, como a morte de seu avô e melhor amigo. Quando ele encontra a tartaruga morta e leva até a sua avó, como forma de explicar que agora ela havia entendido o que havia ocorrido com o seu avô, e ela através dos sinais diz que o ama, é muito emocionante.
O filme termina com Jonas e sua mãe indo até a escola de surdos, Jonas parece bastante nervoso o que é compreensível dada sua experiência traumática com a escola anteriormente. Quando ele entra na escola e vê as crianças sinalizando, percebemos a felicidade dele ao se sentir finalmente incluído. Agora ele mesmo se apresenta ele tem vez e voz, através da língua de sinais para poder dizer: - MEU NOME É JONAS.
 Ao assistir o filme pude refletir sobre a importância da Língua de Sinais para a construção da identidade surda. Através da aquisição da língua de sinais possibilitamos que os surdos se comuniquem com as pessoas que os cercam e de uma maneira acessível e agradável consigam conviver em sociedade e terem a possibilidade de construir uma vida digna.
Termino meu texto com as palavras de GUEDES, 2009, p. 48. Sobre a identidade surda:
Não há uma única forma de ser surdo, não há uma única identidade que dê conta de toda a diferença surda de forma homogênea. Sendo assim, não é compreensível que os surdos continuem sendo vistos a partir das lentes que os determinam e cristalizam na deficiência auditiva. Mais do que leis, escolas especiais ou inclusivas, é necessário que se façam circular outros discursos em relação aos surdos e à surdez.

Referências:

CALDAS, Ana Luiza Paganelli; SCHALLENBERGER, Augusto. “Experiência docente de dois professores surdos na universidade: Choques culturais” In: LOPES, Maura Corcini; FABRIS, Elí Henn(Orgs.) “Aprendizagem & inclusão implicações curriculares” . Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010.
GIORDANI, Liliane. “Educação inclusiva na educação de surdos: o que se permite entre a política oficial e o movimento social?” In: LOPES, Maura Corcini; VIEIRA- MACHADO, Lucyenne Matos da Costa.(Orgs.) “Educação de surdos. Políticas, língua de sinais, comunidade e cultura surda.” Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010.
GUEDES, Betina S. “A língua de sinais na escola inclusiva: estratégias de normalização da comunidade surda” In: LOPES, Maura Corcini; HATTGE, Morgana Domênica (Orgs.) “Inclusão escolar. Conjunto de práticas que governam.”  Autêntica, 2009.
LOPES, Maura Corcini; VEIGA-NETO, Alfredo. “marcadores culturais surdos” In: LOPES, Maura Corcini; VIEIRA- MACHADO, Lucyenne Matos da Costa.(Orgs.) “Educação de surdos. Políticas, língua de sinais, comunidade e cultura surda.” Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2010.


domingo, 19 de junho de 2016

Música na Educação Infantil


"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntas as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes". 
Rubem Alves





Todas as fotos utilizadas possuem autorização para sua utilização

Faço essa reflexão a partir das discussões realizadas na disciplina de musicalidade e de experiências que tenho realizado como docente na Educação Infantil, a partir do material que temos estudado nessa disciplina. 
A atividade retratada pelas imagens consiste em uma experimentação livre realizada pelos alunos por instrumentos musicais.
Para muitos alunos este foi o primeiro contato com vários dos instrumentos oferecidos, então ao invés de apresentar os instrumentos e "ensina-los" como utilizar, preferi oferecer de forma livre para que estes experimentassem o som que cada um produzia.
Junto com o som dos instrumentos, ouvia-se risadas de alegrias dos alunos a cada som emitido pelo instrumento escolhido.
Como nos fala Rubem Alves na atividade escolhida para abertura dessa postagem: "A experiência da beleza tem de vir antes." 


segunda-feira, 13 de junho de 2016

E se o mundo fosse surdo? Reflexões sobre a importância da acessibilidade



A postagem dessa semana é motivada pela reflexão que realizamos na disciplina de LIBRAS a partir do vídeo: "E se o mundo fosse surdo?" 

O vídeo me fez realizar várias reflexões sobre acessibilidade. Então gostaria de compartilhar duas reflexões com vocês:

1- Sobre a importância da acessibilidade: 

Ao ver a menina do vídeo buscando informações e sem conseguir obtê-las pois ninguém entendia sua língua, podemos refletir sobre as diferentes necessidades especiais e os desafios que as pessoas enfrentam diariamente. Desde pessoas surdas que não conseguem informações, em vários serviços, pois as pessoas não conhecem LIBRAS, até um cadeirante que não pode acessar vários lugares por não ter rampas, por exemplo.Penso que viver em um mundo em que as pessoas não falam a minha língua seria um grande desafio, pois como seres- humanos sentimos a necessidade de nos comunicar, como seria essa comunicação sem que as pessoas conhecessem a minha língua?

2- Acessibilidade é uma das chaves para a inclusão social. 

Sem acessibilidade as pessoas se sentem excluídas por não poderem realizar as mesmas atividades que os outros com os quais convivem. Por exemplo um grupo de colegas de trabalho vai até um restaurante, mas um dos colegas é cadeirante e o acesso de rampas seria por um porta lateral. Esse colega não poder entrar com os seus amigos pela porta principal pode ser considerada uma forma de exclusão. Ao entrar no restaurante todos os colegas fazem o pedido em português, caso tenha um colega surdo e o garçom não conheça libras esse precisa escrever ou pedir apoio para um amigo que saiba, mais uma forma de exclusão. Com essa reflexão reafirmo a importância de  ações voltadas para a acessibilidade como forma de ampliação da inclusão social.